PARECE QUE AINDA NEGLIGENCIAMOS OS PERIGOS DA PRESSÃO ALTA
  • Publicado: 22/11/2022
  • Por: Revista Veja Saúde

PARECE QUE AINDA NEGLIGENCIAMOS OS PERIGOS DA PRESSÃO ALTA

“Desde a Roma Antiga, a humanidade sabe da existência de um “pulso” na circulação sanguínea e de sua conexão com a saúde. Mas foi só na segunda metade do século 19 que o conceito de hipertensão primária — aquela que não é provocada por uma doença específica, e sim por um conjunto de fatores — foi cunhado pelo médico britânico Frederick Mohamed.
Mais de 150 anos depois de dar nome aos bois, a ciência já mapeou os estragos que ela faz, entendeu sua ligação com o estilo de vida e criou medicamentos para domá-la.
Silenciosa e, por vezes difícil de controlar, a hipertensão é o fator de risco responsável pela maior porcentagem de mortes por problemas cardiovasculares, em especial infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
Quando não são fatais, esses desfechos podem resultar em anos perdidos por incapacidade física. “A pessoa sobrevive a um derrame, mas fica com sequelas que comprometem sua autonomia”, exemplifica a cardiologista Gláucia Maria Moraes Oliveira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Além do AVC em si, hoje se sabe que a pressão alta aumenta o risco de demências, entre elas o Alzheimer. Fora os danos diretos aos rins e outras panes pelo coração e as artérias do corpo, a doença também está associada a quadros mais graves de infecções, caso da própria Covid-19.
Os estudiosos entendem o porquê de tudo isso e conhecem a fundo o estado dos vasos sanguíneos e dos órgãos de um hipertenso. Só que, mesmo com tanta intimidade, os números são desanimadores. “Estima-se que apenas um terço dos portadores tenha sido diagnosticado e somente um quinto se mantenha dentro das metas de pressão arterial”, conta Gláucia.
Para complicar, o quadro está aparecendo cada vez mais cedo, financiado por má alimentação, sedentarismo e estresse. Em uma pesquisa nacional, conduzida pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, a prevalência de hipertensão na adolescência chegou a quase 10%. E isso em 2016.
A suspeita é que a pandemia tenha piorado as coisas, dada a bagunça generalizada nos hábitos e o aumento nas mortes por doença cardiovascular. Desmontar esse cenário é um desafio global, e passa por quebrar a inércia médica no acompanhamento dos pacientes e melhorar a adesão deles ao tratamento, que é para a vida toda e vai muito além do uso de remédios. É urgente entender por que a hipertensão é uma combinação explosiva para o organismo e como podemos desarmar essa bomba.”

FONTE: Revista Veja Saúde n. 485