RISCO DE DIABETES AUMENTA NO TRABALHO NOTURNO
  • Publicado: 15/03/2023
  • Por: Revista Portuguesa de RPSO

RISCO DE DIABETES AUMENTA NO TRABALHO NOTURNO

"A Diabetes Mellitus (DM) constitui uma doença crónica com elevada e crescente prevalência, abrangendo indivíduos cada vez mais jovens, o que determina um aumento da doença numa população com uma faixa etária produtiva. Os custos associados ao tratamento da DM e as suas complicações produzem uma sobrecarga económica para os doentes, familiares e para toda a sociedade. Estes indivíduos possuem maior risco de incapacidade para o trabalho e uma elevada taxa de absentismo. Segundo um estudo de Breton (2013) verifica-se um impacto negativo da diabetes sobre  o absentismo, perda de produtividade, incapacidade para o trabalho e reforma antecipada. Neste estudo conclui-se que indivíduos com diabetes têm entre dois e 10 dias de absentismo por ano a mais do que aqueles sem diabetes. Os Indivíduos com diabetes e complicações relacionadas tiveram mais absentismo e perda de produtividade do que indivíduos com diabetes, mas sem essas comorbidades, e do que aqueles indivíduos sem diabetes. As causas dessas incapacidades funcionais são diversas, entre elas as complicações crónicas decorrentes da doença, excesso de peso, incapacidade física, hiper e/ou hipoglicemias.

 

No trabalho por turnos, especialmente nos turnos noturnos, é mais frequente a patologia gastrointestinal, nomeadamente as úlceras péptica e duodenal, bem como alterações do sono (que se podem tornar crónicas), doença cardiovascular (incluindo dislipidemia) e diabetes. Além disso, alguns estudos associam o trabalho por turnos noturnos a um aumento da prevalência da síndroma metabólica, que consistem na junção da alteração lipídica (diminuição do bom colesterol ou HDL e aumento os triglicerídeos), aumento da tensão arterial, obesidade abdominal e glicemia alterada. Assim, o trabalho por turnos é um fator de risco para o início de DM. Entretanto, o efeito do trabalho noturno no controle glicêmico de pacientes portadores de DM é pouco conhecido. 

As alterações no apetite e nos horários de alimentação levam a uma maior apetência para alimentos e bebidas ricos em açúcares e à tentação de recorrer aos snacks (ricos em gordura saturada, sal e açúcares) em vez de se fazer uma refeição saudável e equilibrada; as alterações do sono, falta de exercício físico também são fatores importantes. Como resultado, pode existir uma maior dificuldade de controle glicémico nos doentes diabéticos que fazem turnos noturnos.

Existe a necessidade de desenvolver estudos controlados randomizados. Não obstante, o controle mais agressivo da glicemia nos trabalhadores noturnos pode ser importante para evitar as complicações da doença. Há necessidade de investir em programas de prevenção da diabetes junto dos trabalhadores nos serviços de Saúde Ocupacional e desenvolver/ implementar intervenções direcionadas e eficazes para ajudar os trabalhadores a gerir melhor sua doença, uma vez que a prevalência de diabetes tipo 2 na população em idade laboral continua a aumentar. Pode ser necessário adequar o regime terapêutico e alimentar aos trabalhadores diabéticos que trabalham em regime noturno."

 

Fonte: https://www.rpso.pt/a-influencia-do-trabalho-noturno-no-controlo-da-diabetes-revisao-integrativa-da-literatura/